sábado, 18 de maio de 2013

"Um belo dia resolvi mudar. E fazer tudo o que eu queria fazer..." ♪ ♫

"Certo dia ele resolveu voar. Seguiu em frente, sem rumo, mas sempre chegando em algum lugar. Quando se cansou desceu para dormir. Era fim do dia e ele se acomodou em um galho de uma alta árvore. De repente, sonhou com movimento para baixo, estava caindo em direção ao nada. O desespero que sentiu, o fez acordar e foi aí que viu que realmente caía. Fechou os olhos e pôs-se a voar em disparada para cima. Quando abriu os olhos viu que era noite e que estava muito alto já e parou de subir. E foi nesse instante que ele percebeu o mundo: a imensidão da Floresta, a imensa quantidade de estrelas no céu, a Lua, um Rio que serpenteava o meio da Floresta. E foi ali que se deu conta que antes era insensível às sensações, como se os barulhos que ouvia em seu dia-a-dia o faziam se desligar das coisas. Foi então que no frescor da noite, ele olhou o mundo mais uma vez e viu que o brilho da Lua tornava possível a ele ver as coisas; uma leve brisa assobiando em seu ouvido e envolvendo seu corpo trouxe um cheiro doce e agradável de flor. Se deitou para cima para contemplar a Lua. Pouco depois, fechou os olhos e se deixou cair, para, na velocidade, unir todas as sensações em uma coisa só, mas que somente ele conseguia sentir. E pouco antes de atingir as copas das árvores voltou a voar, agora seguindo o caminho de volta. E já não era mais o mesmo, mas isso não era um problema, pois aquele momento seguiria com ele para sempre."

quinta-feira, 25 de abril de 2013

"Happiness hit her like a train on a track" ♪

Blowing

"Um vento forte e quente
             [entra pela janela
Me revira por dentro,
Me chama pra ver o mundo.

Lembro do passado;
Penso no presente;
E sonho com o futuro.

Sempre gostei do vento,
mas nunca soube porque.
Hoje eu descobri:
o vento é sempre um abraço;
põe as coisas em movimento,
por mais tristes que sejam.
Ele mostra que tudo segue
                         [um caminho.

Sinto que o mundo está à espera;
sei que meu amigo vento veio
[por meio de uma saudade meiga
como um sinal de esperança:
“o passado sempre estará com você,
o presente deve ser vivido com suas possibilidades,
e o futuro te aguarda do jeito que você for”."

domingo, 2 de dezembro de 2012

Prece


"Que eu não esqueça que vivi, à minha maneira, mas vivi.
Que cada passo seja mais determinado que o anterior.
Que toda solidão seja provisória.
Que os caminhos sejam partilhados.
Que toda ajuda seja aceita.
Que toda festa seja agradável.
Que a estrada toque o horizonte.
Que a jornada seja cheia de riso.
Que o azul do céu esteja comigo.
(eu preciso do céu azul)"

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Dona Sophia, Dona Sophia...

Acho que por enquanto é mais ou menos assim...



"Às vezes"


"Às vezes julgo ver nos meus olhos
A promessa de outros seres
Que eu podia ter sido,
Se a vida tivesse sido outra.


Mas dessa fabulosa descoberta

Só me vem o terror e a mágoa

De me sentir sem forma, vaga e incerta
Como a água."


Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 29 de julho de 2012

"Le Hermit - O Ermitão"

"- Agora, em meu próprio país, meus pés voltam a pisar.
O Ermitão saiu do barco e mal pôde se sustentar.
- Pergunte, pergunte Santo Homem:
O Ermitão esfregou a fronte.
- Fale - disse ele - diga que homem a mim está defronte.
- Embora esta carcaça tenha enrugado de tanta agonia, que me forçou a narrar meu conto, até que chegasse o dia.
- Desde então, a uma certa hora, a agonia retorna, e até o final desta narrativa, o meu coração chora!
- Eu passo como a Noite: de terra em terra. Tenho um estranho poder na fala.
- Assim que a face dele eu vir, saberei que deve me ouvir. E ensiná-lo é tudo o que posso pedir..."

domingo, 22 de julho de 2012

Quando conhecemos as coisas de verdade?

"Às vezes, sem causa aparente, vemos de verdade o mundo que nos rodeia. E essa visão é, a seu modo, uma espécie de teofania ou aparição, pois o mundo se revela para nós em suas dobras e abismos como Krishna diante de Árjuna. Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim; todas as tardes nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado, feito de tijolos e tempo urbano. De repente, num dia qualquer, a rua dá para outro mundo, o jardim acaba de nascer, o muro fatigado se cobre de signos. Nunca os tínhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim: tantos e tão esmagadoramente reais. Sua própria realidade compacta nos faz duvidar: são assim as coisas ou são de outro modo? Não, isso que estamos vendo pela primeira vez já havíamos visto antes. Em algum lugar, no qual nunca estivemos, já estavam o muro, a rua, o jardim. E à surpresa segue-se a nostalgia. Parece que nos recordarmos e quereríamos voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhada por uma luz antiquíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer. Nós também somos de lá. Um sopro nos golpeia a fronte. Estamos encantados, suspensos no meio da tarde imóvel. Adivinhamos que somos de outro mundo."

Octávio Paz

Acho que é por aí...

domingo, 15 de julho de 2012

Ode Marítima

"Ah, quem sabe, quem sabe,
Se não parti outrora, antes de mim,
Dum cais; se não deixei, navio ao sol
Oblíquo da madrugada,
Uma outra espécie de porto?"


Álvaro de Campos